Simbolismo da Torah e o universo primordial - Parte II

19/04/2014 10:35

A Torah começa com a seguinte sentença:

 

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ:”

 

“BeReshit Barah Elokin at ha shamaim veat haeretz”

 

“No princípio criou Elokin o céu e a terra.”

 

BeReshit (Gênesis) 1:1

 

    BeReshit (No princípio) vem de Rosh (Cabeça), levando o sufixo “It” que enfatiza, dando grandiosidade. O sentido certo é “Encabeçando” ou “Na cabeça”, pois “Be” significa “No” ou “Em“.

    Já, Shamaim (Céu) e Eretz (Terra) sendo este último da mesma raiz de רצון - Ratzon (Desejo), desta forma “Terra” na Torah, significa desejo, sendo o “Céu” a representação do prazer. Significando no final, que tudo começa com o prazer e o desejo,

    Em hipótese nenhuma poderemos ter um desejo sem que haja uma história de prazer. Por exemplo, um aborígene da Austrália não pode ter o desejo de tomar sorvete de morango, pois nunca teve esta experiência. Desta forma, podemos concluir que no início de tudo, a terra deveria ser “Vazia e nua” ou seja, no começo não existiria nenhuma forma concreta de desejo.

   Os desejos nas dimensões internas da Torah e na literatura sagrada, são representadas pelo “Kli” ou seja por um vaso, sendo o prazer o momento do seu preenchimento. Normalmente este prazer é representado pela luz que entra no vaso. Podemos tirar daí que o prazer é limitado às dimensões do vaso, sendo por esta razão, finito e fugaz.

    Existem duas formas de vaso, sendo um de recepção ( O desejo de receber) e outro de doação (O desejo de dar), sendo este último representado pela luz saindo do vaso.

    A doação é o outorgamento, sendo na Torah representada por um desejo chamado “Israel”, sendo a conjunção das palavras Iashar (Direto, Reto) e El (Deus ou de cima), assim a propriedade de aspiração ao alcance de equivalência de forma com o Criador.

    As “Nações do mundo” são aspirações de egoismo ou “Recepção de prazer”.

    Quando Yakov (Jacó) luta com o “Visitante da noite”, a representação do “Arcanjo de Esaú” (A essência de nossa animalidade ou mesmo corporalidade) que é travada durante a noite (Na fase do Goluth ou diáspora em que estamos distantes do Criador) e que termina no amanhecer, quando vencemos, recebemos o “Nome de Israel” que é o desejo de doação. Uma ínfima parte da alma divina, uma centelha, dentre todos os outros desejos do mundo, as “Nações do mundo”.

    Israel irá crescer, até dominar completamente os nossos corações.

    Nesta forma de crescimento, esta ínfima centelha gerará frutos, multiplicando se, diferenciando se nos doze príncipes, “filhos de Jacó” e posteriormente nas doze “tribos de Israel”, pois nós, na realidade, somos uma coletividade de pensamentos, idéias, aspirações e atos, e a Torah, representa isso com muita propriedade. Lembrem-se que a Torah, na realidade é um tratado de psicologia.

    Naturalmente estas duas propriedades estão presentes em todos nós, e a Torah é o ensinamento e método para o desenvolvimento da propriedade de “Israel” dentro do Homem, com o propósito de alcançar o Criador nesta vida.

    Podemos ver que a palavra אָדָםAdam” (Pessoa ou Homem) e outras palavras próximas como um outro sinônimo para Terra e solo e mesmo do planeta terra é אדמהAdamah, אודםEdom ou vermelho. Vejam que o homem também está relacionado com “desejos” e também a forma granular ou composta por ínfimas partes.

    Quando:

 

 

וַיִּיצֶר יְהֹוָה אֱלֹהִים אֶת הָאָדָם עָפָר מִן הָאֲדָמָה וַיִּפַּח בְּאַפָּיו נִשְׁמַת חַיִּים וַיְהִי הָאָדָם לְנֶפֶשׁ חַיָּה: “

 

“E o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida e o homem foi feito alma vivente:”

 

    Cada um de nós é na realidade uma centelha que “Sonha existir e com a realidade”, sendo na verdade um grão de poeira ou terra, que devido as nossas múltiplas experiências neste sonho “a vida”, seremos agregados em um só ser (Podemos interpretar de várias formas, em um homem, como a coletividade de aspirações ou mesmo o ser universal, como coletividade de almas) em que será soprado o “fôlego da vida” e fará dele uma nefesh chaiá ou alma viva.

    Vejam que o נִשְׁמַת Fôlego” está representado pela palavra Neshamat que contem a raiz da “Terceira alma da Torah, sendo Nefesh a primeira, Ruach a segunda e Neshamah a terceira., Mas Nefesh Chaiáh, ou simplesmente Chaiáh ou “Viva”, é a terceira alma divina, pois a primeira não é contada, por ser puramente a alma animal. Por isso é que os “filhos de Adam (Ou filhos do homem) vão ressucitar no terceiro dia.” , pois filho de adam, representa que o ser já tem o “Nefesh Elokit” ou “alma divina”, por ser um Israelita, já tendo vencido a luta com o “visitante da noite”, já tendo vivido as experiências do Egito, e atravessado o Mar Vermelho ou de Juncos.

    Este pó da terra (Ou poeira dos desejos) são infinitas almas que através de múltiplas experiências e infindáveis vidas neste mundo, irão se juntar para formar o ser coletivo, ADAM. Para isso precisamos nos unir através do amor mútuo e destruir as barreiras que nos separam.

    A última alma será יחידה (Yechidá), proveniente de Echad que significa “Um”. O curioso é que a palavra Yechida vem de “um”, mas significa “Pelotão”, vemos que o seu significado é perfeito, pois ela representa a unidade dos seres, mas também a multiplicidade. Esta alma ainda não existe. Existirá no futuro, na consecução final do plano da criação. Na verdade existe, mas está oculta para nós, pois não existe passado, presente ou futuro, somente um eterno presente, sendo o tempo, uma mera ilusão. Yechidah é a nossa verdadeira alma, mas está completamente oculta de nós.

 

    No tanach (Bíblia Hebraica), em Ketuvim (Escrituras), em מִשְׁלֵי Mishley (Provérbios) 8:25 e 26, poderemos ler:

 

בְּטֶרֶם הָרִים הָטְבָּעוּ לִפְנֵי גְבָעוֹת חוֹלָלְתִּי: “

 

Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.”

 

עַד לֹא עָשָׂה אֶרֶץ וְחוּצוֹת וְרֹאשׁ עַפְרוֹת תֵּבֵל: “

 

- Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo.

    Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, pois ainda não existiam os níveis espirituais para galgar, ainda não tinham sido gerados os desejos (Terra) nem as realidades objetivas, representadas pelos campos, nem o princípio do pó da terra, o que significa que a diferenciação dos seres em infinitas centelhas ou infindáveis atributos (Principes, filhos de Yakov e Tribos de Israel), para a evolução, ainda não havia começado.

    Tenhamos em mente que estamos falando do mundo interior, que pode ser de um só ser ou da coletividade de seres. Está sendo exposta aquí a fase primordial da existência, o primeiro passo na evolução do ser e a sabedoria (Rochmah) é que está sendo a locutora.

 

    * Nota: Mishlei מִשְׁלֵי além de provérbios, quer dizer fábula, parábola, alegoria, adágio, dito .... É um livro bastante profundo. Digno de Shlomo (Salomão). Podemos começar aqui a entender o sentido de Ketuvim (Escrituras).

 

O Exodo e a terra prometida.

 

A história dos patriarcas e a ida de José para o Egito levando consigo os seus irmãos, será discutida em outra ocasião e por agora por ser tempo de Páscoa discutiremos este episódio.

 

וּבְנֵי יִשְׂרָאֵל פָּרוּ וַיִּשְׁרְצוּ וַיִּרְבּוּ וַיַּעַצְמוּ בִּמְאֹד מְאֹד וַתִּמָּלֵא הָאָרֶץ אֹתָם:

 

 

“ E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a Terra se encheu deles. “

    Evidentemente esta é uma menção de que os desejos “israel” (Desejos altruístas) crescerão em número.

 

וַיָּקָם מֶלֶךְ חָדָשׁ עַל מִצְרָיִם אֲשֶׁר לֹא יָדַע אֶת יוֹסֵף: “

 

E levantou-se um novo Rei sobre o Egito, que não conhecera a José “ Shemot – Exodo 1:7 e 8

 

וְכַאֲשֶׁר יְעַנּוּ אֹתוֹ כֵּן יִרְבֶּה וְכֵן יִפְרֹץ וַיָּקֻצוּ מִפְּנֵי בְּנֵי יִשְׂרָאֵל: “

 

“Mas quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam, e tanto mais cresciam; de maneira que se enfadavam por causa dos filhos de Israel.” Shemot – Êxodo 1:12

 

Esta é uma clara alusão de que haverão choques de “Interesses” entre os desejos altruístas e egoístas.

 

וַיְמָרֲרוּ אֶת חַיֵּיהֶם בַּעֲבֹדָה קָשָׁה בְּחֹמֶר וּבִלְבֵנִים וּבְכָל עֲבֹדָה בַּשָּׂדֶה אֵת כָּל עֲבֹדָתָם אֲשֶׁר עָבְדוּ בָהֶם בְּפָרֶךְ:

 

 

“Assim que lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em Barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o seu serviço, em que os obrigavam com dureza.” Shemot – Êxodo 1:14

 

 

וַיֵּלֶךְ אִישׁ מִבֵּית לֵוִי וַיִּקַּח אֶת בַּת לֵוִי: “

 

“E foi um homem da casa de Levi e casou com uma filha de Levi.Shemot – Exodo 2:1

 

    Evidentemente os “pais” de Mosheh (Moisés) deverão vir de nossos atributos internos relativos às apirações de união com o alto. Aqueles que terão a missão do “Casamento”.

 

וַיִּגְדַּל הַיֶּלֶד וַתְּבִאֵהוּ לְבַת פַּרְעֹה וַיְהִי לָהּ לְבֵן וַתִּקְרָא שְׁמוֹ משֶׁה וַתֹּאמֶר כִּי מִן הַמַּיִם מְשִׁיתִהוּ:”

 

“E, quando o menino já era grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adotou; e chamou-lhe Moisés, e disse: Porque das águas o tenho tirado.Shemot – Exodo 2:10

 

    Significando que o nosso Moisés nasce de nossas próprias conclusões internas  (Águas – Conhecimentos).

 

ו יאמֶר יְהֹוָה רָאֹה רָאִיתִי אֶת עֳנִי עַמִּי אֲשֶׁר בְּמִצְרָיִם וְאֶת צַעֲקָתָם שָׁמַעְתִּי מִפְּנֵי נֹגְשָׂיו כִּי יָדַעְתִּי אֶת מַכְאֹבָיו: “

 

“E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores.”  

 

וָאֵרֵד לְהַצִּילוֹ | מִיַּד מִצְרַיִם וּלְהַעֲלֹתוֹ מִן הָאָרֶץ הַהִוא אֶל אֶרֶץ טוֹבָה וּרְחָבָה אֶל אֶרֶץ זָבַת חָלָב וּדְבָשׁ אֶל מְקוֹם הַכְּנַעֲנִי וְהַחִתִּי וְהָאֱמֹרִי וְהַפְּרִזִּי וְהַחִוִּי וְהַיְבוּסִי: “

 

“Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do heteu, e do amorreu, e do perizeu, e do heveu, e do jebuseu.” Shemot – Exodo – 3:7 e 8

 

Quando atingimos um determinado nível, já como Israelitas, a nossa alma clama por ascensão. Queremos ardentemente ir para níveis mais elevados e as limitações impostas por estas realidades nos fazem aspirar a “Terra Santa”. Isso evidentemente em uma explicação bastante superficial do quadro psicológico que nos encontraremos nesta situação.

 

Daí por diante a Torah fala de que o primeiro mês do ano será esse e passa a narrar as dez pragas do Egito que estaremos descrevendo em outra oportunidade, mas estamos no mês de Nisan que começa na primeira lua nova depois do equinócio da primavera no Hemisfério norte.

 

No próximo episódio da Torah, Deus começa a instruir o que deverá ser feito na noite da passagem (Pascoa) .

 

וְלָקְחוּ מִן הַדָּם וְנָתְנוּ עַל שְׁתֵּי הַמְּזוּזֹת וְעַל הַמַּשְׁקוֹף עַל הַבָּתִּים אֲשֶׁר יֹאכְלוּ אֹתוֹ בָּהֶם: “

 

 

“ E tomarão do sangue, e por-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem”

 

וְאָכְלוּ אֶת הַבָּשָׂר בַּלַּיְלָה הַזֶּה צְלִי אֵשׁ וּמַצּוֹת עַל מְרֹרִים יֹאכְלֻהוּ: “

 

“E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães ázimos; com ervas amargosas a comerão.”

 

Veja que a menção de “Naquela noite” é importante, pois é aquela em que passa o “Anjo da morte”, sendo a noite de “Pessar”, da passagem pelo “Goluth” ou diáspora. Esta é uma alusão de todo o período em que começamos a nos preparar para ultrapassar a “barreira” da nossa interioridade ou sub consciente, quando deveremos nos manter puros e eliminando a animalidade em nós, representada pela carne do “Cordeiro” que deve ser assada (No fogo da nossa  fé).

 

אַל תֹּאכְלוּ מִמֶּנּוּ נָא וּבָשֵׁל מְבֻשָּׁל בַּמָּיִם כִּי אִם צְלִי אֵשׁ רֹאשׁוֹ עַל כְּרָעָיו וְעַל קִרְבּוֹ: ”

 

“ Não comereis dele cru, nem cozido em água, senão assado no fogo, a sua  cabeça com os seus pés e com a sua fressura. “ Shemot – Êxodo 12: 7 a 9

 

שִׁבְעַת יָמִים מַצּוֹת תֹּאכֵלוּ אַךְ בַּיּוֹם הָרִאשׁוֹן תַּשְׁבִּיתוּ שְּׂאֹר מִבָּתֵּיכֶם כִּי | כָּל אֹכֵל חָמֵץ וְנִכְרְתָה הַנֶּפֶשׁ הַהִוא מִיִּשְׂרָאֵל מִיּוֹם הָרִאשֹׁן עַד יוֹם הַשְּׁבִעִי:

 

“ Sete dias comereis pães ázimos; ao primeiro dia tirareis todo fermento das vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado, desde o primeiro até ao sétimo dia, aquela alma será cortada de Israel.” Shemot – Êxodo 12:15

    Vejam que apesar de que “Naquela noite” devessem comer carne de cordeiro assado no fogo (Eliminarem toda a sua animalidade) Durante todo o resto do período de “Sete dias” não poderiam ter fermento em suas casas. Os sete dias são as eras em que a alma irá evoluir até chegar ao seu objetivo.

    São estritamente proibidos de comer todos os alimentos fermentados Na Páscoa. O pão é substituído por Matzá - wafers planos cozidos, feitos apenas de farinha e água . Seguindo este preceito , Judeus de todo o mundo , tomam um cuidado escrupuloso para evitar comer até mesmo a menor partícula de Chametz, existindo uma verdadeira obsessão, pois inclusive em Israel existem pessoas, grupos e empresas especializadas em lavagem de utensílios de cozinha, para livrá-los completamente de todo resquício de Rametz.

    Isso na realidade é um preceito que retrata coisas espirituais e não precisam ser levadas à esse nível, pois retirar totalmente o lêvedo significa, que as nossas almas não podem ter nenhum resquício de arrogância, orgulho, soberba ou auto elevação, que na realidade não tem nada a haver com as coisas físicas.

    A característica de massa fermentada ( Chametz ) é que ele sobe e incha , simbolizando o orgulho e ostentação. O Matzá , por outro lado, é fino e liso , o que sugere a mansidão e humildade. A páscoa sugere neste costume milenar que o Chametz - arrogância - é a própria antítese do ideal da Torá.

    Nos três dias que antecedem a páscoa, já há séculos, um costume muito antigo e o de se espalhar pequenos pedaços de pão pela a casa e se procurar com as crianças no escuro, usando apenas uma vela. Na realidade é apenas uma brincadeira, mas o seu simbolismo é perfeito, pois emula a nossa procura por nossas imperfeições durante as nossas vidas, na escuridão e com o uso de somente uma vela. Na realidade durante as nossas vidas, contamos apenas com as nossas pequenas consciências, a “pequena vela.” que nos guia em todas as nossas buscas e decisões.

    Maimônides conta esse costume em um de seus livros, de que quando criança brincava com o seu pai que era Rabino e Dayan (Juiz) de sua comunidade. Estes fatos ocorreram com Maimônides ( No século XII).

    Temos que ter em mente que esta travessia da alma é algo que acontece durante um longo tempo em que nos preparamos para entrar em um estado mais elevado de nossas existências e que este acontecimento ocorre durante a noite (Goluth) em que poderemos ser levados pelo “anjo da morte”, ou seja, se não fizermos estas mitzvots, certamente nossas almas estarão mortas e não farão parte da nação de Israel. Evidentemente temporariamente, até ser reconduzida ao caminho certo, pois nenhuma alma será perdida.

    Os costumes foram cristalizados na cultura do povo durante ´seculos e acabou perdendo o seu significado real mais profundo. Na realidade “descemos da montanha para outeiro e depois para a planície e nos esquecendo de nosso lugar de origem” como dito no versículo da própria bíblia.

    No cristianismo isso foi completamente modificado, pois devido a problemas nacionais e evitando a elevação destes dias de páscoa e a ligação com fatos de conotação nacional de libertação dos povos de Israel, a celebração da páscoa passou a ser algo relativo a acontecimento da vida de Jesus e a uma suposta nova aliança. Yehoshua (Jesus), jamais alegou tal coisa, sendo que ele mesmo é retratado nos Evangelhos, celebrando a páscoa, no episódio da última ceia. É algo inteiramente paradoxal.

Isso foi feito na época por completa ignorância e arrogância do império romano, que queria os judeus completamente fora das fronteiras da nova religião. Foi um problema daquele tempo, mas que infelizmente, ficou fazendo parte do costume cristão.

    Outros costumes foram alterados, como a transferência do dia de descanso do sábado para domingo, e muitos festejos que foram retirados da tradição Judaica e Cristã, como o dia da travessia do mar, o dia da entrega da Torah, o Chanukáh , o Purim e outros. Todos dias relacionados aparentemente com a suposta nacionalidade do povo Judeu. Quem na realidade decidiu isso foi um Imperador Romano. Além do mais, a nova religião deveria ser condizente com o calendário Romano, pois fora orientada pelos seus dirigentes da época, principalmente para este povo.

    O que temos que ter em mente é que Yehoshua (Jesus) era um Israelita que jamais negou a Torah, pelo contrário, confirmou-a, como pode ser visto nos próprios evangelhos que menciono em ensaios anteriores.

Desta forma, a parábola que retratava simbolicamente um objetivo transcendental, foi completamente obliterada, perdendo o seu sentido, para costumes físicos e em outro caso completamente alterada, para retratar fatos da vida de Jesus. É uma pena que a Torah tenha perdido o seu sentido mais profundo, para dar lugar a coisas pragmáticas e do cotidiano.

Mas o importante é que está lá, pronta para ser encontrada quando submetida a luz da Torah Oral, sendo os seus objetivos aclarados para que seja permitido inundar nossas almas e estejamos aptos através de seu simbolismo invisível, e de um desenvolvimento de nossa imaginação, nos elevarmos a uma interpretação mais sublime e completamente desprovida de formas. Que possamos compreender em nossas almas, o real significado destas coisas, sem que usemos imágens de nosso mundo objetivo.

    Não vou discutir a respeito do sangue de carneiro , pos já o fiz em ensaios anteriores. Só queria aclarar o significado do “Pão levedado” no evento da páscoa.

    O que devemos ter sempre em mente é que tudo o que existe é o nosso mundo interior e que toda a realidade que nos cerca é meramente uma abstração. Vemos que podemos através da matemática descobrir fenômenos da física, revelando que o mundo exterior é completamente condizente com nossas raízes interiores, a causa de tudo. Como se diz em física, a matemática é uma “janela” que nos permite perscrutar a realidade.

    A páscoa emula de certa forma a nossa passagem por uma fase de nossa existência, onde ganharemos a “liberdade de expressão”, como representado pelo Pe-ssar (Boca falante) do hebraico, mas também (Passagem). Vemos que a palavra “Hebreu” vem de “Lavor” que significa “Cruzar” (V ou B e R no alfabeto latino) o L não conta pois é a letra ou prefixo que forma o infinitivo do verbo.

    Estas também são letras do nome “Abrão” o Hebreu que “cruzou” a Mesopotâmia chegando a Canaã, recebendo também de Deus a promessa de ganhar a “Terra Prometida”, circuncidando-se, separando-se espiritualmente das “Cascas da Maldade”.

    Estamos na Páscoa e devemos ter em mente que a “promessa está de pé”. Se nos empenharmos em “comer o cordeiro assado” banir o “lêvedo espiritual” de nossas vidas, após chegar ao monte Sinai e lá, o nosso Moisés interior receber a “Torah” acima desta montanha. Que representa a nossa emancipação, recebendo o livre arbítrio, chegaremos a Terra Santa e lá lutaremos com os Reis Cananitas, nossas “paixões não retificadas”, passaremos pela fase dos “Três Reis”, Como Saul quando ainda teremos resquícios de maldade, como David (Rei Guerreiro) faremos de Ierushalaim (Jerusalém) a nossa capital e como Sholomo, construiremos o templo Sagrado, o Beit HáMikdash em nossos interiores e Deus morará conosco em nossos interiores.

 

    Esta é a promessa da “Terra Santa”:

 

Feliz Páscoa

 

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