Os livros sagrados - O começo da subida - A ausência de forma

28/06/2014 09:15

A ausência de forma.

 

Quando estivermos defronte a um livro sagrado, devemos tirar de nossas mentes qualquer resquício de espaço, forma ou temporalidade, pois estas obras não dizem respeito ao nosso mundo físico.

Quando a Torah menciona a “morte do cordeiro” em que deveremos pegar o seu sangue e pôr nas “vergas das portas” e também quando fala da noite em que passará o “Anjo da Morte” a noite de “Pessar”, não está falando de um momento em particular, mas durante todo o tempo necessário a correção da alma que pode durar anos, toda uma vida ou talvez várias “gerações”. Principalmente a “Noite”, é um símbolo que representa o tempo em que estamos “Dormindo” ou “Mortos” espiritualmente. Portas e janelas, representam as nossas conexões de entrada e de saída, as nossas expressões ou inferências espirituais, bem como “Comer” simplesmente está se referindo a “Adquirir” certa informação, pensamento ou insight do exterior.

Quando o Zohar ou mesmo o Tomer Dvorah fala em se fazer um Tikun para aquela Sephirah, não está falando de um certo momento e de uma certa Sephirah em particular, mas de todo o conjunto de Sephirot (Sufixo Ot, significa plural) principalmente às que compõem Malkut e Zeir Ampin.

Devemos ter sempre em mente que a Torah, o Zohar e outros livros sagrados, falam de nossa interioridade e além dos níveis subconscientes e de nossas consciências superiores, não se referindo de nenhum modo a relatos de fatos de vidas físicas ou mundanas.

As histórias contadas, são meramente ilustrativas, sendo na realidade parábolas que representam coisas muito acima dos fatos físicos, sendo alusões e analogias, utilizando-se de símbolos cujos significados estão muitas vezes guardados nos significados imaginativos ou mesmo nos nomes das coisas ou pessoas que a compõem, através de raízes das palavras e mesmo de significados paralelos ou de sinônimos.

A repetição da leitura do texto, a meditação, bem como a leitura de obras genuínas que explicam o seu significado, bem como um guia verdadeiro (Um Rabbi ou Mestre), é que nos conduzirão ao seu real significado. Fazer parte de um grupo também é interessante, mas deve-se tomar o cuidado de que com um grupo físico, não sejam levantados problemas de competição entre egos e políticos, perdendo o grupo, qualquer caráter de busca espiritual.

A cultura ao qual estamos imersos é muito importante, pois não podemos compreender certas histórias bíblicas sem que faça parte de nossas mentes certos significados. Por exemplo se não sabemos que no passado a arrogância ou soberba eram representadas por um “Pão que cresce”, pois naquela época não existia a imagem do ego, jamais poderemos compreendê-la como tal e não entenderemos o significado de não se comer pão levedado. Por isso ao longo do tempo, foram aparecendo obras como o Zohar, Etz Háchaim, Talmud Eser Sephirot, HáSulam e outros, para diferentes épocas, pois os significados e mentalidades foram mudando, o que passou a simplificar muito a compreensão de certas alusões que se faziam necessárias naqueles tempos, mas por outro lado passou a complicar a compreensão de certos significados da época, ocultando-os quase que completamente para as mentes não treinadas a lê-los.

A utilização de certas tecnologias, como o computador e o desenvolvimento das civilizações com novos recursos técnicos e novas formas de encarar a administração, levou a uma melhor compreensão das relações entre as pessoas e a necessidade de adoção de novos termos que pudessem representar melhor certas atividades. Isso abriu uma brecha bastante importante para que se pudesse compreender melhor certos princípios internos sem que seja necessária a utilização de parábolas, que eram os únicos “Modelos” da época que podderiam ser utilizados como recurso.

Podemos ver isso claramente nos casos de utilização de palavras como “programa”, “Projeto” , “Física”, “Ego”, “Consciência” e etc, em que, uma só palavra hoje em dia, evita a utilização de muitas, em textos antigos, onde não se tinha a ambiência que se tem hoje.

Termos como “Deus dos exércitos”, “Guerra”, “Espada”, “Sacrifício”, “Aproximação”, “Luta”, “Mortos ao fio da Espada” não tem nenhuma conotação negativa, pois os objetos, não são pessoas físicas, são na realidade anomalias internas nossas. Vícios de nossos emocionais inconscientes e conscientes, representados por “Filisteus”, “Gebuseus”, Eteus e etc... etc. E além do mais nos sacrifícios, os animais eram os nossos desejos corpóreos, sendo o animal nós mesmos, no qual o que deveria se sacrificada seria a nossa animalidade ou o nosso “Corpo”, não significando aí, corpo físico, mas o conjunto de desejos que nos representam. Não se esqueçam que na Torah, tudo que não seja Or Ein Sof (A Luz sem fim), são desejos.

Da mesma forma, “Desejos”, são vetores ou “Tensões”, porém nesta caso, não de qualidades físicas, mas “Emocionais”, “Mentais”, ou “Espirituais”, muito difícil de se definir. Na Bíblia são representados por Eretz (Terra). O Kavanah (intenção) é que dá a direção do desejo, sendo oriunda da palavra Kivun que quer dizer direção. È a componente direcional do vetor ou tensor, dependendo de quantas dimensões estamos falando.

Um exemplo muito importante disso ´que um ato simplesmente não representa em si que é positivo ou negativo. Um criminoso ao golpear uma pessoa com um estilete está cometendo um crime, mas um médico pode fazer a mesma coisa, mas pode estar salvando uma vida. A intenção é o principal elemento do ato.

Os vícios de nossas emoções, são representados pelo Yetzer Ha´ra (Má inclinação) que foi adquirida na representação simbólica do “Jardim do Eden, quando “Nahash” (A serpente), seduziu Hava (Eva) a morder a fruta da Etz HáDaat Tov VeRa “ עֵץ הַדַּעַת טוֹב וָרָע “, Arvore do Conhecimento do bem e do mal e a sua semente entrou em nós e estamos obrigados a viver nestas realidades, seguindo em frente, fazendo escolhas e retornando através da vivencia e correção das nossas imperfeições utilizando-nos da estrutura de uma árvore para retornarmos ao nosso lugar de origem. Os sete dias da semana representam estes 7 níveis ( que teremos que galgar ) e são representados também pelas 7 chamas da Menorah e pelos 7 mil anos, sendo o ultimo milênio o Shabbat, no qual a “criação” estará terminada e se viverá a alegria do Shabat no HaOlam havah. O mundo que virá.

Um detalhe muito importante é que antes do pecado de Eva, Deus falou à Adão para não comer da arvore do conhecimento do bem e do mal, pois se comesse “certamente morreria”. Porquê não morreu ? Na alegoria, simplesmente foi expulso de paraíso e teve que trabalhar pelo próprio “Pão”. Isso demonstra que a morte é na realidade uma morte espiritual (A expulsão do paraíso) e o “trabalho” em busca do “pão”, sendo este último também, algo não físico, mostra a nossa busca por voltar ao nosso nível original de espiritualidade e neste particular, a nossa jornada pelas realidades, a busca de “Conhecimento” (As águas) pela vivência ou experiência e finalmente a subida da árvore é que nos permitirá alcançar as “Alturas” nas nossas mentes interiores. A Torah é a “Instrução” para isso. Trata de todos os detalhes e todo o resto do Tanach (Bíblia hebraica) nos informa, com exemplos, as “Batalhas” à serem travadas com as nossa imperfeições interiores representadas pelos povos cananitas ou nações do mundo. Cada Tikun (Correção de uma imperfeição) é uma verdadeira batalha e por muito tempo, pois todos nós sabemos que corrigir cada imperfeição é uma coisa dificílima, sendo também que muitas vezes somos traídos por nós mesmos e seduzidos a retornar aos nossos hábitos originais.

Vejam que após Abrão vencer as batalhas com reis cananitas, encontrou Melkisedek (Já falei antes sobre isso) e foi para um banquete de “Pão e Vinho” em Shalem (Plenitude ou perfeição).

Na luta de Jacob com o visitante da noite é uma alegoria em que a essência da má inclinação representada pelo visitante (O Rabínico Arcanjo de Esaú, sendo este último a representação da corporalidade ou animalidade)

Devemos também notar que na bíblia hebraica, a maioria esmagadora de alimentos é sempre o “Mosto”, o Trigo”, o óleo ou a oliva e mesmo as árvores. O Mosto é o suco de uvas no qual a fermentação ainda não terminou, ou seja ainda não é vinho. O trigo ainda não é o pão, o óleo ainda não foi aceso, a oliva ainda não é óleo e a árvore e na qual subimos (Sendo nós mesmos) para alcançarmos o estado de elevação espiritual, pois a árvore representa o “Justo”. Isso representa que as nossas obras estão em evolução, sendo que os nossos alimentos resultado do nosso trabalho, ainda não atingiram o estado de perfeição, não sendo ainda pão, vinho e consequentemente não estando ainda acesa a chama da fé.

Vejam que o caminho da Torah é o caminho do Justo e da Justiça e poderemos encontrar em todas as suas páginas como a perfeição de Deus como a de Justo e a retidão de seus caminhos.

Leiam em 1 Reis sobre a construção do templo de Jerusalém e vejam que na entrada e em seu interior, as Palmeiras, são os principais elementos da adorno (Chamado de Palmas). Também são utilizadas Romãs que representam a própria Torah e também as “Delícias do Paraíso” quando em “Pardes Rimonim” (pomar de Romãs ou o próprio Gan Eden – Jardim do Éden) representados no lugar santíssimo do Beit HaMikdash (Templo de Jerusalém) ou o próprio paraíso.