O segundo mandamento, as realidades, as formas e os nossos caminhos.
Vamos nos deter um pouco no segundo mandamento de não adorar ídolos. Na realidade a adoração de ídolos vai muito além daquilo que podemos discutir ou compreender em um primeiro relance.
A sephira Keter (Coroa em hebraico) mais próxima, representa o nosso subconsciente próximo, enquanto a keter mais elevada, representa o nosso subconsciente profundo. Se comporta como se fosse uma montanha, sendo por isso mesmo, que o nosso mundo interior é representado por isso, montanhas !
Veja que no contexto bíblico, quando Deus fala com os Israelitas no monte Sinai, se referindo a terra de sua descendência, diz; “ Guardareis, pois, todos os mandamentos que eu vos ordeno hoje, para que sejais fortes, e entreis, e ocupeis a terra a que estais passando para a possuirdes; E para que prolongueis os dias nessa terra que o Senhor, com juramento, prometeu dar a vossos pais e à sua descendência, terra que mana leite e mel. “
“Pois a terra na qual estais entrando para a possuirdes não é como a terra do Egito, de onde saístes, em que semeáveis a vossa semente, e a regáveis com o vosso pé, como a uma horta; mas a terra a que estais passando para a possuirdes é terra de montes e de vales; da chuva do céu bebe as águas; terra de que o Senhor teu Deus toma cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até o fim do ano.”
“E há de ser que, se diligentemente obedeceres a meus mandamentos que eu hoje te ordeno, de amar ao Senhor teu Deus, e de o servir de todo o teu coração e de toda a tua alma, darei a chuva da tua terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhas o teu grão, o teu mosto e o teu azeite; e darei erva no teu campo para o teu gado, e comerás e fartar-te-ás.”
" Guardai-vos para que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e os adoreis; e a ira do Senhor se acenda contra vós, e feche ele o céu, e não caia chuva, e a terra não dê o seu fruto, e cedo pereçais da boa terra que o Senhor vos dá. Deuteronômio 11, 8 a 17
Esta “Terra de montes, da chuva do céu bebe as águas” ou seja a sabedoria vem diretamente do alto como representado pelas águas. Esses montes são a nossa mente superior em todas as suas elevações. Não se esqueçam de que a palavra pensamento em hebraico “ הרהור " é formada por duas raízes da palavra "הר “ (Har - Montanha).
Eu já havia mencionado isso antes, mas estou repetindo para ficar bem claro o que vou descrever hoje.
Veja que para que continuemos nela e nos dê os seus frutos, temos que seguir nos “Caminhos do Senhor”, amando-o profundamente , obedecendo aos seus mandamentos e não se desviar adorando ídolos. O que é na realidade obedecer aos seus mandamentos, amá-lo profundamente e não adorar ídolos ?, vamos tentar esclarecer isso.
Vivemos em um oceano de leis, sendo estas leis representadas por uma simples palavra “Torah” que em hebraico significa “Lei”. As leis da Torah giram em torno de princípios que nascem na unidade do ser e apontam também em sua direção. Quando o livro Torah fala em “Amar o seu amigo como a sí mesmo”, está falando a respeito desta unidade. Rabi Aquiva falou desta Mitzvá (Preceito) como se fosse a lei fundamental que reunisse todas as outras leis da bíblia. O próprio Hilel (Sábio) que viveu um pouco antes de Jesus também se referiu a ela do mesmo modo.
O grande objetivo da criação e nos unir em ADAM, porque por enquanto somos apenas pó, uma ínfima parte da criatura universal da qual fazemos parte e o nosso amor mútuo nos unirá e seremos todos junto, um só. A Knesset Israel a assembleia de Israel, ADAM.
Partindo da unidade e de sua essência, as leis se desdobram em uma extensa cadeia de causas e efeitos, formando um oceano no qual estamos imersos e devemos seguir a sua corrente. Temos uma direção. Se todos os nossos atributos estiverem alinhados com os princípios destas leis, estaremos indo na direção certa, estaremos indo nos “Caminhos da Torah.” Não significa que estaremos indo nos caminhos de um livro, mas seguindo os caminhos das leis que determinaram a nossa existência e faremos o mínimo atrito possível. Se as transgredirmos constantemente, estaremos indo em um caminho tortuoso que é chamado de “Caminho da Dor”, pois seguiremos em dificuldades, pois nós mesmos nos faremos transitar por realidades que nos servirão para nos dar experiências de correção.
Como discutido no ensaio “ As realidades e o "Pirkey Avot פרקי אבות " , as nossas realidades são controladas por nós mesmos e quando na Bíblia é citado que Deus diz aos israelitas que os vai castigar, não significa que Deus esteja vigilante para o que estejamos fazendo, mas que através das suas leis que já estão embutidas nos princípios do sequenciamento das realidades, os Israelitas ou pessoas que tem a centelha do Israel, o Nekudá SheBaLev (A centelha do Israel) em seu interior e já estão nas montanhas, terão que seguír as leis cegamente para que as suas realidades sejam boas “ para que recolhas o teu grão, o teu mosto e o teu azeite; e darei erva no teu campo para o teu gado, e comerás e fartar-te-ás.” . Não entendam porém isso no sentido físico da existência do ser. Explicarei isso bem mais tarde, pois grão, mosto e azeite querem dizer coisas espirituais. De qualquer forma, o sequenciamento de realidades será bem mais prazeroso para quem cumpre as leis.
Temos que considerar, que estamos imersos em um ambiente mental, internamente quando temos que refletir ou meditar, a nossa mente é assolada pelos mais diversos tipos de pensamentos. A mente cria imagens o tempo todo, sendo quase impossível que a controlemos, se não estivermos disciplinados para tal.
Quando recebemos informações do alto, através de Keter, esta passa, como já foi dito antes, para Chochmah (Lê-se rormá, acentuando-se o segundo R na garganta e quer dizer sabedoria), que a recebe como um relâmpago, um flash de luz momentâneo. Logo após, Binah a transforma em entendimento e passando-o para Daat, que é o conhecimento e está associado às emoções de Zeir Ampin).
Em dimensões de nosso pensamento superior, precisamos nos acostumar de que não existem formas, sendo algo simplesmente sensorial e emocional, tendo inclusive outros tipos de sentidos que não podem ser observados através de nossas realidades físicas. São sensações sutis, que vêm através das dimensões que estão sendo construídas em nosso interior. Qualquer criação de ideias ou formas físicas, inviabilizarão o alcance das sensações reais dos sentidos de dimensões mais profundas das realidades mais elevadas de nossas mentes.
O mundo interior ou espiritual, nada tem a haver com a nossa realidade física, e qualquer produto de nossas mentes, fruto de conclusões, com criações de personagens, imagens e cenários decorrentes, nos impedirão de alcançar os níveis mais sutis de nossas consciências. Isso é chamado de “Idolatria”, sendo o grande fantasma que nos assola. A nossa mente cria imagens para tudo, e vejam que esse foi o grande problema dos reis de Judah após a morte de Salomão, pois todos os descendentes dele, passaram por problemas de idolatria, criando todos os momentos, templos para outros Deuses (Vejam cronicas i e II).
Se isso fosse físico,seria um absurdo, pois os Israelitas, como contado na bíblia, em suas parábolas, eram constantemente ajudados por Deus que enviava anjos e outas coisas para ajudá-los contra os seus inimigos, e quem em sã consciência, iria partir para adorar outro Deus desconhecido. Seria completamente absurdo.
Isso quer dizer que apesar de serem Reis (Terem a coroa em suas cabeças ou seja, já terem atingido um certo nível em suas consciências e alcançado o nível de Keter próximo). Keter quer dizer Coroa ou podemos entender como algo que está acima de nossas cabeças e não a toca, sendo algo distinto de nossos corpos físicos. Os nossos subconscientes que já estão fora de nós
Temos encontrado muitos líderes religiosos, de seitas ou grupos, que demonstram um certo grau de espiritualidade, mas que se prendem a descrever toda uma dialética e estrutura do mundo espiritual, falando de coisas exatamente como as pertencentes ao mundo físico. Essas são geralmente pessoas que passaram por grandes tormentos em suas vidas e forjaram a sua espiritualidade na dor. Muitas vezes são confusas e misturam várias religiões a despeito de serem pessoas com muitos traços de espiritualidade, mas não podem conter a idolatria. São pessoas boas, retas e espiritualizadas, mas se perdem em confusas imagens criadas em seu interior, impedindo-as momentaneamente de ir na direção certa. São “Reis” em um certo grau, mas estão mergulhadas momentaneamente na idolatria, sendo segurados pela materialidade. Este é o gigante que precisaremos lutar para chegar a níveis mais altos de nossas consciências.
Longe de mim dizer aqui, que estas criaturas estejam certas ou erradas, estão em um estágio que estamos e estaremos passando por muito tempo, sendo esta uma etapa que todo o ser passa por suas vidas, sendo somente um exemplo evidente para podermos ilustrar o que queremos dizer. Muitos desses seres são mensageiros muito importantes e nos passam exemplos de vida que devemos seguir, mas precisamos estar alertas que as nossas mentes são traiçoeiras e servem a camadas mais baixas de nossas existências, que nos impedem de progredir. Esta é a nossa luta eterna contra os cananitas e a sua idolatria. Nos níveis de espiritualidade, existem dois lados sempre. A Sitra Achra e a Sitra Kedusha. O lado sombrio e o lado Santo. É nossa missão passar pelos dois. São duas colunas e devemos passar exatamente entre as duas. Isso é real e passamos o tempo todo por isso. Mais tarde dedicarei uma semana a isso, pois é muito importante em nossas vidas em que vivemos um constante vai e vem entre os dois lados, sendo cada momento em um..
Em nosso Keter estão os atributos do prazer, que são representados por Atik e o da Vontade que é o representado por Arir, sendo o mais alto atributo, o da fé de que falei no ensaio anterior. Uma coisa muito interessante é que a música é algo sensorial, que através dos sons nos produz sensações.Vejam que a música e o amor, produzem sensações profundas e as primeiras sensações alcançadas em nossas almas, são coisas muito parecidas com sons e música e não se esqueçam que David era salmista e músico, condições alcançadas por um Beinoní (Estado Intermediário em hebraico)
Os atributos do prazer e o da vontade são os geradores de todas as outras coisas em nós, sendo que a vontade, nasce do prazer. Não existe vontade, sem que haja um prazer anterior. Um aborígene no interior longínquo da África, não pode ter vontade de comer caviar ou tomar sorvete de caramelo, pois nunca sentiu o prazer de saborear tais coisas, nem conhece a sua existência. Assim como não podemos ter vontade de comer algum prato que vai ser criado daqui a mil anos.
Já estivemos em níveis elevados e como é pictóricamente representado na bíblia em seu início, no drama do Gan Eden (Jardim do Eden ). Neste estado estávamos em perfeita harmonia. Tínhamos todos os prazeres, como se fosse cada cor do Arco Íris da luz depositado em nós. Éramos um ser único que recebia o prazer da luz infinita, diretamente de nosso criador. Por razões que não discutiremos nesse momento decaímos e nos separamos em um número infinito de criaturas que desceram para viver nas realidades.
Parte de nós já se elevou, não à níveis tão elevados como originalmente, mas infelizmente decaíram novamente (Representado pela queda do templo de Jerusalém - Beit há Mikdash) e estamos no Goluth (Diáspora) e só alcançaremos o nosso nível original no final da Geulah (redenção), onde seremos todos novamente um só. Não que tenhamos deixados de ser "Um", mas estamos separados pelas cascas de nossos egos e impedidos de vivenciar a unidade.
De certa forma cada parte de nós, de alguma forma, se lembra deste momento sublime, mas temos de galgar o caminho de volta em nossas montanhas.
Na bíblia, isso é falado muitas vezes, mas em uma parte é bastante sugestiva;
“Ovelhas perdidas têm sido o meu povo; os seus pastores as fizeram errar, e voltar aos montes; de monte para outeiro andaram, esqueceram-se do lugar de seu repouso”. Jeremias, 50:6
“Cordeiro desgarrado é Israel, os leões o afugentaram; o primeiro a devorá-lo foi o rei da Assíria, e agora por último Nabucodonosor, rei de Babilônia, lhe quebrou os ossos.”
Jeremias, 50:17
Vejam que as “Ovelhas” ou “Israelitas”, “Voltaram aos montes” e reduziram ainda mais para “Outeiros”, se esquecendo, inclusive do seu lugar de repouso, significando que decaíram, sendo devorados pela Assíria e pela Babilônia. Em poucas palavras, pela materialidade. O termo “Ossos quebrados” tem relação com quebra de sua essência ou situação essencial, pois “Osso” em hebraico . עצם (Etzem ou osso) é da mesma raiz que “Essência” (Atzimutho). Significando que em última instância, decaíram completamente de sua situação essencial ou fundamental, para a condição de plena materialidade, ficando presos neste mundo e se esquecendo, inclusive da sua origem ou do lugar em que estiveram.
Voltaremos para esta condição. As sensações do mundo espiritual são maravilhosas e a primeira é a de um amor profundo por tudo e por todos e uma sensação de eternidade indescritível e muitas delas perduram por horas.
Todos vamos alcançar, mas precisamos decidir,: Para atingir os níveis mais elevados em nosso interior, subindo a montanha de nossos pensamentos, precisaremos “Amar a Deus sobre todas as coisas” com nossos corpos, nossas mentes e nossas almas isso é que primordialmente nos levará para o alto. Não devemos nos esquecer, de que foi Deus que tirou os Israelitas da servidão do Egito.
“Não podemos Adorar ídolos diante de Deus”. Para que possamos alcançar os níveis mais sutis de nossa existência, alcançando os novos sentidos que virão, pela construção de nossas dimensões interiores, não podemos de forma alguma, criar imagens físicas de coisas espirituais, pois estas, pela ausência de tempo e espaço, absolutamente não as tem. O mundo superior dentro de nós, é a dimensão fundamental e real. É onde realmente existimos, sendo totalmente desprovido das formas físicas que conhecemos, pois estas são produto de nossa interação com as realidades externas a nós. A criação de imagens para as coisas abstratas e níveis mais altos de nossas existências, colorem as nossas mentes com formas ilusórias, impedindo que alcancemos os sentidos mais sensíveis e inicialmente de níveis bastante tênues.
Não que as realidades físicas não tenham importância, Têm sim e muita, pois como está escrito “A mulher virtuosa é a coroa do seu marido “ Provérbios, 12:4
Nukva (A fêmea ou mulher) é Malkut (O reino) que representa o nosso nível de consciência na realidade física, é o caminho principal para que atinjamos os níveis mais elevados, sendo no seu palco, o lugar onde se desenrola o drama de nossas vidas. É o lugar que alcançamos as nossas virtudes para que com ela atinjamos a coroa (Keter) que fara de nós, Reis. Como exemplo temos também: “Coroa de honra são as cãs, a qual se obtém no caminho da justiça” , Provérbios 16:31.
Para atingirmos esta situação, precisaremos honrar pai e mãe, ou seja considerar Aba (Pai) que representa Chochmah ou sabedoria e Ima (Mãe) que representa o entendimento. Devemos Honrar com fervor as sensações e pensamentos que vêm do alto, através das duas sephirot de Sabedoria e de entendimento, sentindo com o nosso coração (Zeir Ampim) o que vem do alto. Em palavras simples, devemos honrar tudo que vem do alto, através de nossa parte intelectual e devemos meditar muito no que iremos fazer, principalmente para que tudo seja em função de pensamentos proativos e de outorgamento. Não devemos nos esquecer, de que o caminho do Rei é Mente =>Coração=>Serpente e não o contrário.
É também muito importante que na estrada, não pratiquemos o adultério não substituindo a nossa mente objetiva (Nukva ou Malkut) ou realidades físicas e sensoriais reais, por coisas ilusórias. e fantasiosas, que nortearão as nossas vidas à caminhos enganosos e tortuosos, nos tirando da verdadeira meta.
Não vamos nos delongar nos mandamentos, pois isso com o tempo, ira se sedimentar e poderemos nos aprofundar mais no entendimento de coisas mais elevadas. Estamos juntos neste caminho e aprenderemos juntos com o tempo.
O importante é considerar, que a vida é importante, e só nela é que evoluiremos, a parte mais essencial da natureza é a realidade a qual estamos imersos, pois, é através dela que alcançaremos a condição de “Justos”. Por isso não devemos negar o mundo material, atribuindo a ele uma importância secundária, pois tudo,... tudo na criação é importante.
Uma coisa é importante dizer. O mundo objetivo (Os ramos) acompanham o mundo fundamental (As Raízes), sendo verdadeiramente este, um reflexo daquele, e o que serve para lá, serve para cá. Desta forma, tudo do alto é refletido aqui em nosso mundo mais próximo, inclusive no que se refere à necessidade de observância das Mitzvot (Preceitos).