O prefácio do livro - 12 mil anos passados.

17/07/2016 17:43

PREFÁCIO

Existe nas profundezas do ser um lugar que é a sua própria essência, onde não existem fronteiras ou limitações. Lugar de paz e plenitude absolutas, onde somos perfeitos e puros.

A esse lugar ou estado, os budistas dão o nome de “Nirvana” e a Bíblia Hebraica dá o nome de “A Terra Prometida”.

Buda descreveu o Nirvana como o estado de absoluta paz e superação. O estado em que não temos mais as amarras dos desejos, o mais alto estado de elevação.

No hebraico, a lingua em que foi escrita a Bíblia Hebraica, a palavra Judah (Yehudah) pode ser dividida em duas partes, onde Yeh ou Yah é Deus, e Hud (A segunda parte), significa, magnificência, glória, esplendor, magestade, honra e outros superlativos congêneres. Significa que nesta Terra (Judah ou estado espiritual), estaríamos diante da glória de Deus e já a Palavra Jerusalém (Em hebraico Yerushalaim) a capital de Judah, o seu âmago, vem de Salém ou Shalem (Também Shalom) significando, plenitude, paz, total, mas Yeh ou Yah, no seu início significa “Deus”. Já o sufixo Aym significa plural dual (O hebraico tem plural para dois, para se referir a coisas como mãos, olhos, ouvidos e etc), significando que existem duas Jerusaléns, a terrena e a do alto (Nas montanhas de nosso interior), como também mencinado na própria bíblia. Conclue-se daí, que estes não são lugares físicos, mas puramente estados espirituais. Veja-se também que a cidade de Jerusalém (A terrena) fica no mais alto cume de uma montanha de Israel. O monte Moryah. O simbolismo é perfeito!, Inclusive desenhado pelo próprio país. Dizem os sábios que o nosso plano é meramente a projeção de nossas dimenões interiores.

Fica claro que os significados, tanto no budismo (ou mesmo no hinduismo) como na Bíblia hebraica são os mesmíssimos.

No nosso tempo já não existe mais espaço para de forma simplória, considerarmos “Religiões certas” ou “Erradas”, reconhecendo ingenuamente nos mitos, deidades absolutas e únicas certas, sendo a de outros povos, “erradas” e “pecaminosas”.

Todas são filosofias e frutos da imaginação das pessoas, tentando buscar o ideal de sensações trazidas dos mais altos níveis de suas mentes que tocam altas esferas do espírito humano e desta forma indizíveis na dimensão material. São frutos de experiências íntimas do ser com os seus níveis mais profundos de existência, mas estes níveis são impessoais e não se apresentam formas ou seres restritos a qualquer imágem objetiva ou material.

Há muito tempo li uma obra que foi traduzida do sânscrito para o Hindi. Por Mohandas K. Gandhi (O Mahatma Gandhi) e posteriormente para o Inglês por Mahadev Desai. O título da obra era Baghavad Gita, According to Gandhi (Baghavad Gita segundo Gandhi). Ele falou em sua introdução da obra que a maioria das obras filosófico-religiosas do Hinduísmo, era ilustrada por batalhas. O Mahabarata (A grande Índia) e a sua Coroa, o Baghavad Gita e mesmo o Jainismo, uma das mais antigas filosofias da Índia, com o seu Herói principal Jaina (Conquistador) representam em suas batalhas, o esforço da alma humana para atingir os seus níveis maís altos de existência.

Nas obras do Hinduismo, onde os Vedas (Que significa conhecimento) atuam no papel principal, junto com outras obras de igual importância, como os Upanishads, os Puranas e as épicas como o Mahabarata e o Ramaiana. Vejam que nestes épicos todas as batalhas são travadas por reis ou príncipes.

A obra mais conhecida do ocidente, a Bíblia Hebraica, é permeada de guerras que em seu interior, representam as lutas da alma humana no esforço de sua retificação e o objetivo final da condição de “Justo” ou “Rei”. Essa condição de realeza na Bíblia Hebraica, simboliza o alcance do autocontrole, ou seja, o “Rei do seu reino” ou o controlador da sua própria realidade.

As linguagens rebuscadas destas escrituras visam criar terminologias filosóficas e místicas próprias, que nos permitam adentrar em profundos significados que não poderíamos alcançar pela linguagem ordinária. Em uma tentativa de explicar o desenvolvimento da imaginação e consciência, ilustrando de uma forma efetiva dizem os antigos sábios indianos, que no início, na era do ouro em que os vedas foram criados, a muitos milhões de anos atrás, a memória e a inteligência eram de 100.000 vezes a do homem atual e que todos podiam compreendê-los completamentee que se tornou na era da prata, somente 10.000 Vezes, sendo que na era do bronze, só 1000 Vezes e na era atual, a do ferro, somente a nossa limitada consciência. Por isso o sábio Krishna Dvapayana Vyasa, separou os Vedas em quatro, tornando-o inteligível para nós. Na realidade só podemos vislumbrar superficialmente o seu conteúdo, pois não podemos de forma nenhuma, entender as suas dimensões mais profundas.

Hoje não podemos considerar que Deuses falam conosco e precisamos compreender que as suas falas nas escrituras sagradas de todo o mundo, são nossas conclusões interiores personificando estados mais exaltados de nossas próprias consciências. Não podemos pensar jamais que o ser absoluto, A “Causa de Todas as Causas”, totalmente incompreensível e infinita, tivesse qualquer objetivo em se comunicar com seres de infinitesimal significância como nós.

Os homens já atingiram altos graus de conhecimento e civilização e desapareceram no passado, restando somente religiões que ecoam as suas vozes, mas que pela necessidade de uma linguagem mais elevada, não compreendemos as suas mensagens. É como se um aborígene recebesse uma biblioteca cheia de livros de engenharia eletrônica e aprendessem apenas a ler o inglês. Mesmo que todas as obras estivessem escritas nesse idioma, jamais poderiam entender o que estaria ali escrito, pois precisariam conhecer física, matemática, eletricidade, magnetismo, toda a terminologia relacionada e muito mais. Todas aquelas obras, apesar do alto conhecimento que trariam, não serviriam a nenhum propósito para eles.

Os antigos, para se assegurarem da transferência adequada destas informações, nos legaram obras como os Puranas, o Midrash, a Mishnah e outras de igual importância. Que permitem que nos aprofundemos nas obras que elas discutem. São muito profundas e necessitam de muito tempo e direção especial para serem compreendidas.

A Bíblia já possui nela própria, parte das suas explicações, sendo por isso que ela é dividida em três partes: A Torah (A lei ou instrução), Os Profetas e as Escrituras, sendo por isso que a bíblia hebraica desde priscas eras é chamada de TANAK, de Torah (Lei), Nevaim (Profetas) e Ketuvim (Escrituras). Esqueçam as vogais, pois elas não existem no Hebraico (Nota do autor).

Neste contexto, a Torah é o livro, sendo os outros dois as explicações e aclarações do livro principal, que é a Torah (Pentateuco ou os 5 livros de Moisés). Em sentido mais amplo, “Profeta” (Em hebraico), quer dizer “Declarante”, mas também “Vidente” ou alguém que tem uma visão mais profunda. Além do mais, na própria história, os três livros nem sempre foram considerados uma unidade, pois vejam que os “Saduceus”, por influência helenística, só aceitavam a Torah, negando o livro dos profetas e o livro das escrituras, por pertencerem a Torah Oral que também estava relacionada com a existência da alma humana, o ciclo das almas (Reencarnações ou Gerações), com a “Ressurreição dos Mortos” e com o mundo que virá o “Há Olam Havah”. Isso é mencionado no novo testamento. O próprio Yeshua (Jesus) acreditava nisso, pois falava destas coisas.

Não se deve desanimar que as “Escrituras Sagradas” de todo o mundo sejam simples obras do gênio humano, tratando de coisas sublimes. Deve ser lembrado que os livros científicos e tecnológicos atuais, nos permitem realizar grandes obras, inclusive ir à lua. As obras sagradas nos servem de guia para entrarmos em nós mesmos, indo na direção certa e trabalhando de forma adequada, para alcançarmos o nosso derradeiro destino, ou talvez o início de tudo!

A Parashá (Porção da bíblia que começa em Gênesis 12:1 e vai até 17:27) Lech Lecha (Vá para ti), diz o seguinte:

“Vá para ti. Saia da tua terra e do teu local de nascimento e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”.

A ordem é vá para ti (Para o seu interior). Vejam que está sentença vem da obra original em Hebraico e não das traduções de outras línguas. Significa que Abrão deve ir para o seu interior. Significa que o que vem depois se relaciona também com o interior de Abrão.

Sai da tua Terra, significa “da tua vontade”, pois a Palavra terra (Eretz) em Hebraico é etimologicamente relacionada com a palavra vontade (Ratzon) que pode ser entendido como de seus desejos naturais. Vejam que sempre que é mencionada a palavra terra, é relacionada com à vontade ou desejo. Ex.“No princípio Deus criou o céu e a terra”. No início foi criado o prazer e o desejo, sendo o primeiro, a representação do céu. Toda a bíblia está relacionada com a Psique humana e não com a história do mundo. Um livro intitulado “Lei” ou “Instrução”, evidentemente não poderia tratar de história. Isso é óbvio.

Nesta dialética, em nossas mentes e na vida, tudo é gerado e movido pelos desejos. Não se move um só dedo mínimo da mão, se não houver desejo associado, e o desejo busca o prazer. Por isso, no início, a “Terra era vazia e nua” porque não existiam desejos, pois os prazeres (Os objetivos dos desejos) não eram conhecidos. Os desejos estariam vazios.

Veja-se que a própria palavra hebraica Eden, onde estava colocado o jardim, significa “Prazer” quando escrita com a letra ain em seu início, mas quando escrita com a letra alef, significa “Umbral” ou “Fronteira”. Também ojardim estava colocado no oriente do Eden. 

Continuando, Abrão deveria sair “Do seu local de nascimento”. - O produto interno emocional e de todo o aprendizado retirado do meio em que vive.

“Da casa de teu pai” - Do seu intelecto. Na terminologia das dimensões internas da Torah o intelecto representa o pai no interior do homem que é a autoridade sobre os seus sentimentos e padrões comportamentais.

Para a terra que te mostrarei. O Conjunto de novos desejos que estruturarão o novo estado, a terra prometida como mencionado nas primeiras linhas deste prefácio.

Deve ser lembrado que o nome Abrão significa “Pai Elevado” que encaixa perfeitamente no contexto desta parashá (Porção Bíblica – As 54 Histórias que compõem a Torah, sendo cada uma para ser lida em cada Sábado, em todos os anos).

Vejam que a sequência apresentada na bíblia é ilógica, pois, qualquer pessoa que partisse, sairia primeiro da casa de seu pai, depois de seu local de nascimento e depois da sua terra, mas no Gênesis se dá ao contrário. Primeiro ele sai da terra, depois do lugar de nascimento e finalmente da casa do pai. Sequencia essa completamente contrária a natural. Isso demonstra que o que está sendo tratado é diferente do superficial. Os escritores da bíblia são ardilosos no momento de dar as informações, mostrando que “aí tem!”, sendo este particular um dos motores empregados para o aprofundamento dos estudos de camadas mais internas da Híblia Hebraica. O PARDES, método de hermeneútica empregado para o estudo sistemático da TORAH, ao lado de livros como o Midrash e o Talmude, sendo também utilizadas as metododologias reveladas no século 1AC por Rabbi Hilel O “velho”, nos facilitam descer mais profundamente na sua interioridade.

Isso pode parecer extranho, mas o próprio Esdras em seu livro, menciona de que quando lia a Torah junto com outros escribas empregavam o livro de Midrash do profeta Ido o vidente. Isso está escrito na bíblia, onde foi substituido o texto “O livro de Midrash do profeta Ido o Vidente” da bíblia em hebraico para “Livro de Histórias do profeta Ido o vidente”, não sei ao certo quem encobriu isso. Se foram os próprios Rabinos que traduziram a Bíblia Hebraica para o grego ou gerações posteriores que fizeram compilações, escondendo o seu verdadeiro sentido, mas isso pode ser visto nos livros de Crônicas, Esdras e Neemias. Mais tarde em outros volumes do livro, mostraremos isso com detalhes nos próprios textos bíblicos.

O importante é não entender que a Torah, tenha mistérios que estejamos garimpando para conhecer os seus segredos. O fato é que ela contém segredos extremamente profundos que explicam a vida, mas foram encerrados de uma forma sistêmica e que seus autores empregaram ferramentas hermenêuticas para guardar estes profundos segredos que só poucos mercedores podem atingí-los empregando-as.

As frases que aparentemente não contenham significados totalmente corretos ou que não façam sentido, certamente contêm verbos, personagens ou elementos acessórios do texto, com palavras, cujas raízes, que através etimologias ou mesmo relações de homonímia com outras palavras de interêsse ao texto, dá-lhes vida, sacando o sentido correto.

Vamos, por ilustração, exemplificar isso, em Bereshit (Gênesis) 2:5.

Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma erva do campo tinha ainda brotado; porque o senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia homem para lavrar a terra”.

Logo em seguida Deus cria o Homem do pó da terra. (Nota do Autor).

Bom! A erva do campo ou as plantas, nunca dependeram da lavoura do homem para crescer, tornando esta sentença completamente sem sentido. Veja-se que de propósito, para fugir ainda mais do sentido, especificou-se mais precisamente, “do Campo”.

Não vou interpretar o sentido do texto, mas veja que podemos por sentido na frase, se entendermos a “Terra” como “Desejos” por conter a mesma raiz RTZ Ratzon (Desejo) e Eretz (Terra).Chegamos à conclusão de que as plantas (Aquilo que busca a luz) dependem do tratamento dos desejos pela mente humana e que emprega também o conhecimento (Agua), como matéria-prima.

A frase foi trazida para mais perto, pois os desejos e o conhecimento (A água), convenientemente dirigidos, servem para nos fazer evoluir a ponto de gerarmos atributos internos (Representados pelos vegetais) que irão buscar a luz (Espiritual), abrindo caminho para a criação do homem (O ser perfeito ou Alma elevada representada pelo nefesh Chaiah ou Alma viva) o ser desperto. Esta construção será executada empregando-se o “Princípio do pó” em que cada grão é um desejo que através do espírito de Deus (Ruach), do sopro (Neshimah), chega-se a nefesh Chaiah, a alma viva. As três luzes ou “Dias” (Chuach, Neshamah e Chaiah), os três níveis da alma (Ou os três sinônimos da palavra alma empregados na Bíblia), para a “ressurreição da morte”, conforme metafóricamente declarado por Yeshua (Jesus) em sua frase “O filho de Adam (Filho do Homem) no terceiro dia ressussitará dos mortos”.

Veja-se também que em condição bem mais profunda, a analogia, cria a imágem num nível dimensional diferente, onde a criatura universal “Adam” é construída a partir do pó da terra, onde cada grão é uma alma humana (Que na realidade é um desejo no contexto da bíblia Hebraica). Concluimos que o amor mútuo tenha o objetivo de unir-nos nessa criatura.

A aplicação de princípios etimológicos sobre as raízes das palavras no idioma hebraico bem como a homonímia (Palavras de mesma grafia ou com a mesma pronúncia, porém com grafias diferentes) são de vital importância no aprofundamento do significado dos textos bíblicos, veja-se que existem casos como a palavra montanha (Har em hebraico), combina duas vezes a sua raiz, para formar a palavra “mente”, “pensamento” e mesmo “reflexão” ou “ruminância” (HARHUR), servindo a ídéia de “Montanha”, para transportar o conceito de “Alturas mentais ou espirituais”.

Não pára por aqui. Isso é meramente a superfície ou a segunda camada, indo a Torah muito mais profundamente que isso, tornando-se a partir de certo ponto, totalmente icompreensível à mente objetiva, passando a ser compreendida somente em nosso interior. Esse é o idioma das escrituras sagradas.

Nos próximos volumes, bem mais à frente discutiremos isso com maior detalhe.

Toda a bíblia hebraica, a partir daí, emprega estes mesmos símbolos e suas derivações, (E muitos outros) como ingredientes de suas histórias.

A esta linguagem dá-se o nome de linguagem dos ramos e das raízes, por empregar as raízes das palavras (Três letras dentro da palavra em qualquer sequencia que representa o seu radical na lingua hebraica) para unir conceitos aparentemente distantes.

No hebraico não existe palavra para religião. A bíblia jamais foi uma obra religiosa. Vejam que o seu objetivo principal é o de nos encaminhar à justiça e o judaísmo como religião só começou por volta do século um AC.

Não me vou delongar mais, porém a mensagem é clara. Todas as religiões possuem em seu interior mensagens profundas e a presente obra apesar de ser ficcional é uma abordagem humilde desse assunto.

Mais uma vez, mencionando Gandhi: Uma vez ele disse que em sua cidade, o sacerdote lia os Vedas e em um tempo mais tarde, lia o Alcorão.

O seu interlocutor perguntou,

 -Mas porque isso? São duas religiões completamente diferentes?

E lhe foi respondido por Gandhi.

“- Não são duas religiões completamente diferentes, são apenas, duas formas distintas de se cortejar o mesmo Deus!”

Não é por menos que ele recebeu o nome de Mahatma – “A Grande Alma”.