Melkisedek e o "Atributo de Justiça".
O nosso ensaio nesta semana será breve, mas o seu conteúdo, muito profundo e espero elucidar pelo menos superficialmente o assunto da sephira e da justiça. Ele não terminará agora, continuará por outras semanas onde discutiremos todas as engrenagens das sephirot até atingirmos o nível mais baixo e começarmos a subir novamente. Passamos por níveis mais elevados do que a Keter mais próxima.
Dizem os sábios que quando lemos um livro, de alguma forma nos conectamos com a mente de seu criador. Na realidade, aqueles que alcançaram um alto nível de espiritualidade, podem sentir as suas almas e se conectar a elas.
Vejam que na leitura de um livro, somos capazes de sentir todo o cenário criado pelo autor, inclusive sentimentos e sensações nos são passadas e podemos “ver” de forma relativamente precisa o que ele criou em sua mente.
Na realidade um livro é um meio de comunicação, que funciona como se fosse um condutor translúcido que está conectado entre a mente do autor e a do leitor Utiliza as letras como o meio de conexão.
Por isso, em hebraico a palavra Sepher (Livro) é derivado da palavra Sapir (Saphira), contendo a sua mesma raiz (S,P e R). De certa forma alude a este meio transparente de conexão entre as duas mentes (Autor e Leitor), ou seja, a luz de uma mente é transferida para a outra, através deste canal transparente, transportando o brilho entre as mentes, Desta forma autor é Sopher, Livro é Sepher e relato é Sipur
Muitas outras palavras utilizam esta mesma raiz, tais como Mispar (número)
Notem que a palavra Sephirah ou (Sefíra) é neste sentido, algo que tem a haver com brilho, estória, relato, autor, número e outras coisas mais.
Nas nossas mentes e alma a sephira funciona como um canal, que liga os diferentes níveis de nossos pensamentos/almas. Na realidade são filtros com propriedades próprias e que amortecem a luz desde Ein Sof (Luz sem fim) e o nosso nível, sendo a última sephira (A mais baixa e próxima de nós) a mais escura ou quase que totalmente opaca, deixando chegar a nós somente a quantidade de luz suficiente para que estejamos vivos.
Cada Sephira regula precisamente a quantidade de luz que deixa passar e também serve para filtrar os nossos atributos, nos deixando passar quando nos harmonizamos com as suas propriedades. Tenhamos sempre em mente que estamos imersos em um meio inteligente (As nossas mentes) e tudo obedece a objetivos perfeitamente definidos.
Quando falamos da Sephira Keter (Coroa), estamos falando de nossos inconscientes, de nossos níveis supraconscientes, que apresentam cinco propriedades ou atributos principais. O mais alto é o da fé (Emuná) sendo o segundo o do prazer representado por Atik (Ancião) o terceiro Atik nukva, atik feminino ou externo, sendo o prazer externo, o quarto a vontade e o quinto o arich nukva que representa a vontade externa ou feminina. Estas combinações são o que em Kabbalah é chamado de partzuf ou (Face no sentido de superfície) o seu plural é partzufim. A combinação de luzes e recipientes é chamado de partzuf.
Não vou falar novamente em vontade e prazer, pois já falei sobre isso em um ensaio anterior, mas preciso falar um pouco sobre as letras.
As letras são símbolos que têm propriedades especiais, sozinhas ou quando combinadas, são capazes de transmitir pensamentos e ideias completas, são na realidade portadores de luz ou em si a própria luz.
A sephira mais alta é Keter, representa a nossa supra consciência ou no nível mais baixo, o nosso subconsciente próximo, possuindo basicamente três atributos, o da fé (O mais alto), o do Prazer e o da Vontade. Este nível é alcançado quando conseguimos ter um alto nível de controle. O simbolismo é como se fôssemos coroados por isso e a Coroa representa o domínio que temos de nós mesmos e sobre a nossa realidade particular, representando o nosso reinado sobre o nosso reino (Malkut em hebraico). Vejam que a coroa está acima de nossas cabeças, não sendo parte de nossos corpos físicos. Normalmente a coroa está separada de nossas cabeças, geralmente por um pequeno suporte, algumas vezes almofadado. Esta é a representação do “Rei Justo” que controla a sua vontade e prazer desde o seu subconsciente, fazendo parte de sí mesmo. A fé (Emuná) é o mais alto atributo, pois é através dela que todos os outros se afinam e ganham força, funcionando como engrenagens ao seu comando motor.
Veja que uma vida onde seguimos esta estrada de justiça, onde infusos na realidade, construímos as nossas vidas com retidão, são representadas na bíblia como a “Mulher virtuosa” (A nossa vida dentro da realidade próxima ou Malkut, sendo representada pela fêmea) desta forma; “A mulher virtuosa é a coroa do seu marido “ Provérbios, 12:4, aludindo ao fato de que a nossa consciência virtuosa nos dará a coroa, ou seja, nos permitira entrar em nossos subconscientes.
Os justos chegam a este nível, pois “Coroa de honra são as cãs, a qual se obtém no caminho da justiça” , Provérbios 16:31. e veja que a entrada em Jerusalém segue a isso.
E vejam também que o Rei (Você, salvo e justo) entrará em Jerusalém (Estado de plenitude da alma, pois salém, significa total ou plenitude) ; “Alegra-te muito, ó filha de Sião, Exulta, ó filha de Jerusalém, eis que o teu rei virá a ti, justo e salvo, pobre e montado sobre um jumento, e sobre um jumentinho, filho de jumenta”, Zekariyah, Zacarias 9,9. Vejam a alusão as filhas de Sião e as filhas de Jerusalém. Deixo para vocês pensarem nisso.
Podemos observar que o nosso caminho de evolução é em direção à justiça, sendo que quando somos perfeitamente Justos, ao atingirmos o que se conhece como Gmar Tikun, (a correção final) é o estado de justiça absoluta. Por isso os sábios são chamados de Tsadik (Justos). Vejam que na própria palavra de Tsedakah ou Caridade, revela que isso é um ato de justiça, pois somos todos iguais.
Logo no princípio da Torá, Abraão em uma de suas primeiras batalhas, encontrou o Rei de Salém – Melkisedek que era um sacerdote do Altíssimo. Melkisedek quer dizer que ele era um “Rei da Justiça”
“Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo;
e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra!”, Gênesis 14: 18,19
“Conhecido é Deus em Judá, grande é o seu nome em Israel.
Em Salém está a sua tenda, e a sua morada em Sião.
Ali quebrou ele as flechas do arco, o escudo, a espada, e a guerra.”, Salmos 76: 1,2,3
A alusão é de que Salém é um lugar de paz (Pois não existem mais armas de guerra, Deus as quebrou) , lugar da “Tenda do Senhor” e sendo um lugar de plenitude como sugere o nome Salem (Total ou plenitude em hebraico).
“Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este regressava da matança dos reis, e o abençoou”, Hebreus 7:1
Veja novamente a matança de Reis Cananitas (A correçao dos 6 atributos internos do coração) ou Zeir Ampim a “Pequena face”, veja que após a batalha Abraão foi para Salém. Exatamente como os Israelitas liderados por Josué conquistam a “Terra Santa”.
Na realidade Melkisedek é o atributo da Justiça e da sabedoria alcançado por Abraão. (Que foi ao encontro de Abrão), após a correção de suas propriedades do coração ou “Correção e Elevação dos seus sentimentos”, representada pelas mortes dos reis de Canaã.
Completando:
“a quem também Abraão separou o dízimo de tudo (sendo primeiramente, por interpretação do seu nome, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; Hebreus 7:2
Está correto, rei de paz, mas Paz é Shalom e Salem é “Total”, “Plenitude”, "Pefeição" mas pode também ser visto como “Paz” ou “Paz total”. É neste sentido o cumprimento Israelita de “Shalom”. É ainda por Isso que Jerusalém a capital de Judah é o cento do pais o centro da "Magestade", "Brilho", "Glória ", "Realeza", "Magnificência", "Resplandecencia", Grandiosidade", "Solenidade", "Esplendor" e outros que denotam grandeza representados pela simples palavra הוד as tres letras centrais da palavra יהודה Yehudah ou Judah, nome do pais e que a sua capital, é "paz", "perfeição", "total", sendo que Jerusalem ou Ierushalaim, possui o seu sufixo final "aim" e plural dual, aludindo que existem duas jerusalém a terrena e a espiritual. O Ye do começo de Yehudah e Yerushalaim significa "Deus", sendo o sentido a duas palavras a "Magnificência", "Resplendor"... de Deus para Judah e "Paz", "Perfeição", "Totalidade" ... de Deus para Jerusalém. Em Jerusalém é onde está a montanha que suporta o templo supremo o "Beit ha Mikdash".
Em nosso interior existe apenas um ponto infinitesimal que sonha existir dentro dessas realidades. Estamos separados pelas cascas dos nossos egos que formam a ilusão de estarmos imersos em um mundo de formas e imagens, que através de sequencias de fatos, nos impõem uma vida que na realidade devemos viver. Nossos corpos nossas vidas, nossas roupas, casas, tudo... tudo, não passa de ilusão imposta a nós. Vejam que os físicos nos explicam que os próprios átomos, não têm na realidade, qualquer consistência física e que todos nós em última análise, somos feitos de nada. Esta é a própria posição da física atual.
Fomos nos primórdios, uma só criatura, “ADAM” e nos separamos na forma de pó (Os pontos infinitesimais) que precisam voltar à sua forma original, mas antes disso, teremos que nos corrigir, pois este é o princípio. A necessidade do amor mútuo é a necessidade básica de nos mesclarmos novamente e atingirmos a condição de sermos novamente esta criatura una. A Torah manda desde o seu inicio nos amarmos mutuamente exatamente para isso. O próprio Jesus em seu tempo falou sobre isso.
A elevação de zeir Ampim é quando esta se funde com “Habad” ou seja, quando os nossos sentimentos se fundem com os níveis mais altos de nossas mentes.