O Capítulo 8 de Misley " Priovérbios" e um breve debruçar sobre um dos conceitos de Torah.

15/09/2012 11:34

    já vimos frases como; a Torah é a infraestrutura do nosso universo, a Torah existe desde o início dos tempos, Deus usou a Torah para construir o mundo, Deus criou a Torah antes de tudo e outras frases como essas completamente ininteligíveis para nós. E continuará sendo até que atinjamos um nível que possamos compreendê-la e nesta altura nos fundiremos a ela.

    Na primeira vez em que ouvi isso, achei absurdo de como Deus escreveu um livro e o usaria para criar o mundo e pensei nas histórias contidas lá, em alguns lugares, cheias de maldade e que como coisas essas poderiam ser utilizadas por Deus na criação ? Para mim pareciam absurdas muitas dessas afirmações.

    Na realidade a Torah no seu sentido amplo, não representa um livro, é algo muitíssimo mais amplo.

    Para que tenhamos uma ideia, mesmo que muito fragmentada sobre ela, vamos começar a descrevê-la através de parábolas, não histórias como é comum de se fazer, mas através da imagem da expansão de nossas consciências. Tenhamos sempre em mente que parábolas, sempre foram e serão incompletas, não dando totalmente a ideia do que se está querendo representar.

    Já falamos que os nossos pensamentos, são como montanhas, subindo à grandes alturas. Por outro lado, o limite de cada ser, será o de fundir todas as suas mentes, em toda a sua profundidade, com as dos outros seres, desta forma, teremos um conhecimento “total” do vasto universo que vivemos e eventualmente de outros além. Vemos hoje que a própria Internet começa a demonstrar essa possibilidade.

    Neste caso seremos todos “um” e o grande conhecimento ou “sabedoria” alcançada será participada por todos os seres. Vejam que a tendência será a de conhecermos todas as leis universais, sejam elas físicas, espirituais ou mesmo supra espirituais. Será a fusão global do universo em um só ser.

    Vemos na física atual, que tudo o que vemos no nosso universo é feito da mesma “substância”, que é nada mais nada menos, que energia. Einstein em sua fórmula E=M*C2, afirmou isso. Esta fórmula quer dizer em poucas palavras, que matéria é energia condensada, ou congelada. Na realidade no começo de nosso universo, na explosão do “Big Bang”, existia somente energia radiante, em um estado energético sublime (Temperaturas que as nossas mentes sequer são capazes de imaginar). Esta grande explosão de uma singularidade ou como queiram outros cosmólogos (Da Teoria das Cordas e Teoria M), o choque de duas membranas adjacentes, liberaram grandes quantidades de energia e no decaimento de seu nível energético em pontos específicos de temperatura, através dos choques de fótons, criaram se os quarks, núcleos, elétrons e consequentemente dois neutrinos para cada partícula criada.

    As partículas primordiais, se combinaram formando os átomos mais simples, que são os átomos de hidrogênio. Grandes nebulosas destes átomos se formaram e começaram a se atrair mutuamente, devido às distorções do espaço em torno, criando com isso, grandes massas de matéria (Somente hidrogênio nessa ocasião), que concentraram energia e deram início a uma ignição interna, formando grandes esferas de energia e hidrogênio que chamamos de estrelas. Nesta fase só existia hidrogênio e uma pequena quantidade de hélio que ia se formando no interior destas. Com o passar do tempo, foram se formando novas formas de matéria, todas criadas dentro das estrelas e outras através de fantásticas explosões de estrelas massivas que formavam supernovas ou em casos mais extremos, em buracos negros. O que se deu aí, durante um vasto tempo, e continua até os dias de hoje, é a materia sendo criada em suas formas mais complexas.

    Formaram-se matérias mais pesadas, que deram a possibilidade da formação de planetas rochosos como o nosso, que criou a vida e com isso, os vegetais, os animais e chegando a nós.

    O incrível é que passaram-se bilhões de anos (Que para o universo ou nosso Criador, é absolutamente nada) e estamos aqui, no término dos 6 mil anos desde a criação de ADAM HARISHOM (O Primeiro homem que atjngiu a espiritualidade), no início da era de Mashiach (Messias) e no início da Gueulah (Redenção);

    No início da física, os físicos teóricos e experimentais, sabiam de tudo, tinham os blocos de construção de tudo, que eram os átomos. Depois de pesquisarem os elétrons mais profundamente e agora nas últimas décadas os quarks que compõem os núcleos atômicos se surpreenderam, pois estes não demonstraram nenhuma consistência física, mostrando inclusive, que estas particulas primordiais ou fundamentais possuem raio=0, impossível de se conceber, ou de mesmo de enfiar na cabeça.

    Com muitas pesquisas e ideias hoje correntes, fruto de profundas análises matemáticas, das incertezas e becos sem saída da física quântica, incongruência desta última com a física relativística, da propriedade corpuscular e discreta do espaço e discretitude do tempo, estão tentando outras saídas para a conceituação de uma nova teoria de unificação das físicas e o que está começando a se perceber, que como diz a Kabbalah, a realidade é mera ilusão. A propriedade e a essência do espaço, tempo, energia e matéria é meramente o pensamento. Muitas filosofias de misticismo orientais, dizem a mesma coisa, existindo inclusive a figura do Deus Maya (O Deus da grande Ilusão) em uma alegoria, que quando Buda estava alcançando a espiritualidade, lutou com ele e que quando os exércitos criados por Maya, avançavam contra o Buda, atiravam suas flexas, no meio do caminho, eram transformadas em flores. Esse é o retrato da ilusão. A soma com outros princípios e na própria física teórica, chega-se quase à conclusão, que a matéria é constituída de nada.

    Eu não quero dizer com isso que o que nos rodeia não exista, mas é meramente "virtual", fazendo parte do pensamento que se estende, de e através de nós, e que a realidade percebida é meramente a interação entre os pensamentos aparentemente internos e o mundo de formas que nos parecem vir do exterior.

    Vemos que tudo no universo obedece à leis. Leis essas estritas e jamais se contradizem. Estas leis estão definidas no grande pensamento da criação. No ADAM Kadmon” que é o Homem arquetípico.

    Vejam que como dissemos no começo, como ensinado na Kabbalah, nossos pensamentos se expandirão até atingir tudo, alcançarem os conhecimentos das leis universais, espirituais e supra espirituais. Estaremos em uma condição de unidade absoluta e seremos um só. Esta é a condição de Yechidah, de alma una, o nível de ADAM KADMON, o pensamento da criação, ou mais precisamente, o grande programa da criação, pois ADAM Kadmon é um programa.

    Esta sabedoria, quando interior, não verbalizável, profunda, construída em nós, passo a passo, cujas raízes tocam no absoluto, mas temporariamente imperfeita em nós, mas que luta para atingir estados mais sublimes. Sabedoria que dá a sua alegria e felicidade ao nosso criador como retribuição ou prêmio pela nossa existência. Que no meio da jornada, como o Rei David, luta pela sua Jerusalém e que como o Rei Salomão à desabrocha e culmina na construção do templo ao Senhor. Esta sabedoria que em nome simples se chama de instrução, é a nossa Torah, sendo o livro a forma escrita desta sabedoria. Não aquilo que está em sua superfície, mas no “Pomar de Romãs” que ela representa e repousa em seu interior.

    Vejam no capítulo 8 do livro de Mishley, Provérbios משל que em sua raiz vem de "parábola", "alegoria", "enigma". Eu o transcreví para aquí e faremos algumas considerações sobre o seu texto, não será algo completo, mas dá uma idéia de seu contexto.

1- Não clama porventura a sabedoria, e a inteligência não faz ouvir a sua voz ?

2- No cume das alturas, junto ao caminho, nas encruzilhadas das veredas se posta.

3- Do lado das portas da cidade, à entrada da cidade, e à entrada das portas está gritando:

4- A vós, ó homens, clamo; a a minha voz se dirige aos filhos dos homens.

5- Entendei, ó simples, a prudência; e vós insensatos, entendei de coração.

6- Ouvi, porque falarei coisas excelentes; os meus lábios se abrirão para a equidade.

7- Porque minha boca proferirá a verdade, e os meus lábios abominam a impiedade.

8- São justas todas as palavras da minha boca: não há nelas nenhuma coisa tortuosa nem pervertida.

9- Todas elas são retas para aqueles que as entendem bem, e justas para os que acham o conhecimento.

10- Aceitai a minha correção, e não prata; e o conhecimento, mais do que ouro fino escolhido.

11- Porque melhor é a sabedoria do que os rubís; e tudo o que mais se deseja não pode se comparar com ela

12- Eu, a sabedoria, habito com prudencia, e acho o conhecimento dos conselhos.

13- O temor do senhor é odiar o mal; a soberba, e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu odeio.

14- Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria; eu sou o entendimento; minha é a fortaleza.

15- Por mim reinam os reis e os príncipes decretam justiça.

16- Por mim governam príncipes e nobres; sim, todos juízes da terra.

17- Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem me acharão.

18- Riquezas e honra estão comigo; assim como os bens duráveis e a justiça.

19- Melhor é o meu fruto do que ouro, do que ouro refinado, e os meus ganhos mais do que prata escolhida.

20- Faço andar pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo.

21- Para que faça herdar bens permanentes aos que me amam, e eu encha os seus tesouros.

22- O senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, antes de suas obras.

23- Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio antes do começo da terra.

24- Quando não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de água.

25- Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.

26- Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo.

27- Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do abismo;

28- Quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo,

29- Quanto fixava ao mar o seu termo, para que as águas não ultrapassassem o seu mando, quando compunha os fundamentos da terra.

30- Então estive com ele, como seu arquiteto e fui o seu deleite diariamente, me alegrando em frente a ele em todo o momento “

31- Regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens.

32- Agora pois ouvi-me, porque bem aventurados serão os que guardarem os meus caminhos.

33- Ouvi a instrução, sede sábios, não a rejeiteis.

34- Bem aventurado o homem que me dá ouvidos, velando às minhas portas cada dia, esperando às ombreiras da minha entrada.

35- Porque o que me achar, achará a vida, e alcançará o favor do senhor.

36 Mas o que pecar contra mim violentará à sua própria alma, todos os que me odeiam amam a morte.

Tem alguns pontos que podemos abordar agora que nos conduzirão ao entendimento mais refinado, pelo menos nessa camada mais externa e superficial.

    Vejam primeiramente que a sabedoria e a inteligência falam do cume das montanhas, Chochmah e Binah, estão lá, no cume das montanhas (De nossos pensamentos, é claro !).

    A sabedoria fala nas encruzilhadas de nossos caminhos (Nossas decisões) nos cumes das montanhas ou seja, já em pontos altos de nossas vidas espirituais. Ela está na porta das cidades, nossas janelas para o mundo (Audição, fala, visão, tato, paladar, olfato e etc..) que devem ser filtrados por nossas consciências mais refinadas em uma melhor compreensão das reais razões dos comportamentos,  dos atos e das coisas.

    No versículo 4, ela se dirige aos homens e fala como no texto original em hebraico aos בני אדם (Bnei Adam, Filhos de Adão, ou filhos do Homem e não dos homens, como no texto bíblico em português). O termo Filhos de Adam alude a que somos decorrência de ADAM ou partes dele e veja também nos versículos 25 e 26:

25- Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.

26- Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo.

    Vejam que neste caso, os mundos de espiritualidade e da mentalidade superior, ainda não haviam começado, representados pelo montes e outeiros e nem mesmo a terra (os desejos), nem os campos (Malchut, representando as realidades) tinham sido gerados e com isso nem o princípio do pó ( A divisão de ADAM em múltiplos pontos infinitesimais que somos nós).

    O princípio do pó é algo importante, pois até matematicamente na solução de grandes problemas de física em ensaios de estruturas, o problema é dividido em multiplos pontos que se chamam de “Elementos Finitos”, onde é feita uma triangulação de pequenos elementos que são resolvidos independentemente, transformando um problema grande em uma solução de um vasto número de problemas simples, porquê isso ? Porque nós não podemos formular um modelo completo de um viaduto, por exemplo, equacionando-o em um sistema, pois daria em sistemas insolúveis pelo seu tamanho, mas, agregando um vasto número de elementos simples, poderemos resolvê-los individualmente, agregando-os e termos a solução global do problema pela símples adição. Essas simulações são feitas para se descobrir o comportamento estrutural de viadutos, edifícios, estudos do comportamento de campos magnéticos, de potenciais elétricos e outros, já existindo vários softwares comerciais que fazem isso de forma simples.

    Esta divisão em elementos menores para a sua divisão e solução individual,  é a razão dada na Kabbalah para a divisão de ADAM. A menção dos campos (Malchut, o Reino, é o início da jornada pelo desejo através do princípio do pó). A solução e a retificação do ser total seria impossível, sendo feita a divisão, criando-se um campo de manifestações favorável (As realidades) e os seres individuais infinitesinais, viabilizariam o processo.

    Nesta óptica somos seres infinitesimais que sonham viver dentro de uma realidade ou realidades, que na verdade, são imagens, fruto de interações com as propriedades de nosso ser. O início destas realidades é no “Campo” ou “Malchut” (Ou Reino). Os desejos gerados por nossos egos proporcionam a geração destas realidades. Ao longo de nossas vidas, em muitas experiências em infinitas realidades, tenderemos à uma consciência absoluta e seremos novamente o ser perfeito.

Vejam os três últimos versículos:

34- Bem aventurado o homem que me dá ouvidos, velando às minhas portas cada dia, esperando às ombreiras da minha entrada.

35- Porque o que me achar, achará a vida, e alcançará o favor do senhor.

36 Mas o que pecar contra mim violentará à sua própria alma, todos os que me odeiam amam a morte

Vejam que as últimas portas são as que vão achar a sabedoria (Chochmah) que é o nível de Chayah, da alma viva.

Veja que ela diz que aquele que a achar, também achará a vida, pois significa que a alma despertará em Chayah que como diz David na “Terra dos vivos, diante da face do senhor” , por isso receberá o “Favor do senhor”.

Veja que aquele que pecar, receberá a morte.

    Vemos nesse particular, que a própria realidade mostra que existem muitos homens maus, que exploram outras pessoas, evitam o desenvolvimento de países inteiros, em causa própria ou matam sem qualquer consideração, arruinam a vida de outros na situação de magistrados com um simples julgamento corrupto, São como a Kabbalah fala, "Malvados completos", não restando uma gota de bondade, somente de hipocrisia e falsidade. Muitos deles são longevos, principalmente por terem dinheiro e receberem tratamento especial,  vivem até idades avançadas. Isso quer dizer que a bíblia está errada ? Não,  o entendimento de morte, deve ser do nível espiritual. A pessoa está espiritualmente morta, sua alma animal não vai passar desta vida.

    Por isso, devemos ver a bíblia por seu interior e não na sua superficialidade. O superficial não faz nenhum sentido, sendo mesmo completamente paradoxal e nos levando a becos sem saída.

    Uma coisa é certa, somos todos filhos de ADAM e “todos” estaremos em Salem de Melkisedek, no “reino do Senhor”. Seguiremos por caminhos diferentes, tortuosos, em porções de luz e de dor, mas “Todos nós, um dia, pisaremos a "Terra do senhor" não faltará um só !

    Eu os convidaria a ler este capítulo de Misley várias vezes e com calma, bem devagar, saboreando as palavras e sentindo no interior,  o verdadeiro significado delas. Mais tarde, na medida em que fôr possível, o analisaremos com maior detalhe e profundidade.