O novo Testamento e um breve olhar sobre Jesus-Parte 3
Sobre este mesmo tema, em Lucas temos um relato mais amplo, seguido da definição de o que é o “Próximo” citado várias vezes nos mandamentos:
Lucas 10:25 a 37
“Eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna
“E ele lhe disse: O que está escrito na lei ? Como lês ?
E respondendo ele, disse: Amarás ao senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a tí mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem: Faze isso, e viverás.
E, ele porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo ?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
E ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou ao largo.
Mas um “Samaritano”, que ia de viajem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores ?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: vai, e faze da mesma maneira.” Lucas 10: 25 a 37
primeiro ponto a destacar é que fica bem claro o conhecimento dos Judeus a respeito da lei mais importante de todo o Tanach; a de amar a Deus e ao próximo e Jesus arrematou em sua conclusão que isso os levaria à “vida”.
Em diversos pontos da Bíblia hebraica isso é mencionado. Seguir o “Caminho do Senhor” os levaria à vida.
Agora o ponto mais importante deste episódio e a definição do que é ser o “Próximo”. A parábola decorrente da pergunta de: que é o “Próximo”, e a tentativa de Jesus de explicar através de uma parábola, é constantemente confundida e se interpreta como sendo algo onde quer se servir de exemplo, para boas ações.
Veja que como já definido anteriormente, “Israel” é composto de 3 partes, Os “Cohanim” (Cohens ou Sacerdotes), Os Leviim (Levitas ou aqueles que serviam às coisas do templo), e os Israelim (Israelitas – ou os demais elementos que definiremos aqui inicialmente como povo ).
Jesus ao falar que um homem foi massacrado por salteadores e ficou inerte, meio morto e três elementos passaram por ele. Um era um “certo sacerdote”, que desviou do homem, passando ao largo. O outro era um “levita”que também passou ao largo e não demonstrou nenhum sentimento pela situação. Após veio um samaritano.
Ora a Samária era a capital do antigo reino de Israel que havia se separado de Judah, depois da morte de Salomão, sendo invadida em 722AC pelos assírios e tendo sido completamente arrasada. O seu povo (As 10 tribos de Israel) foram levadas para a Assíria e depois dispersas no Cáucaso, sendo chamadas de as 10 tribos perdidas de Israel, já tendo algumas delas sido encontradas hoje, na China, Afeganistão, Àfrica, India e etc. Alguns povos negros como os Falashas que foram descobertos e investigados e já foram identificados como antigos membros da “Tribo de Dan”, como eles se intitulavam. Com o tempo, haviam se misturado com alguns povos africanos. A prova veio através de análise de seu DNA, foram levados para Israel e hoje vivem lá com o total reconhecimento de sua origem e nacionalidade.
A menção de um Samaritano é dúbia, devido a que um Samaritano nos tempos de Jesus, na sua maioria esmagadora era Gentía (Não Judia), mas haviam muitos Judeus morando por lá. Também Samária era a capital do antigo Reino de Israel.
A imprecisão da origem de pessoa relevante em uma história em que se pretende definir a posição de “Israelita”, é constante, pois vejam que começando com Abraão, que era um “Convertido” e se “circuncidou” já velho e no caso do Rei David, filho de Jessé, cuja herança israelita é incerta, pois é descendente de Ruth (Não Judia e convertida posteriormente para o seu casamento) e de Raabe (Rahav) Prostituta, que ajudou os Israelitas na invasão de Jericó. È citada como a mãe de Boaz que se casou com Ruth. Jessé é filho de Obede e neto de Ruth e Boaz. Jessé (Presente de Deus) foi pai de sete filhos e de David.
Vejam que desta forma a origem Israelita de David é incerta, e da mesma forma no caso aqui sendo a menção de “Samaritano” por Jesus, totalmente intencional, para através de alusões, mostrar que próximo na realidade é aquele que tem o atributo de “misericórdia”, como ele mesmo em sua sequencia de raciocínios, fez seu interlocutor concluir, sendo esta a definição precisa de “Israelita” ou aquele que está em direção à totalidade, representada por Shalém (Total) ou por Irushalaim (Jerusalém), a “Cidade Santa”.
Na Torah vemos que:
“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a tí mesmo”. Levítico 19:18
Está definido completamente que o próximo é outro Israelita com “Os filhos do teu povo”, não havendo margens para dúvidas, mas veja que o seu interlocutor era um Doutor da Lei” e com isso um grande conhecedor da Torah, mas que aceitou a definição completamente e sem mais se contrapor.
Mas vejam tembém que:
“Que preparaste à vista de todos os povos
“Luz para a revelação dos Gentíos e para a glória de Israel, teu povo”. Lucas 2:31 e 2:32
“Ao ver Natanael se aproximando, disse Jesus “Aí está um verdadeiro Israelita, em quem não há falsidade”. João 1:47
Isso não deixa dúvidas que Jesus estava se referindo a um Israelita, como atributo e não a sua nacionalidade. Está claríssimo nesta sequencia apresentada. Da mesma forma este é o mesmo princípio da Torah.
A nacionalidade no contexto da Torah e a insistência de alguns, em algum tipo de “Eleição” de um povo nacional através de menção na bíblia é simplesmente idolatria ou transformação da informação transcendental da Torah em coisas físicas e sem a menor importância no seu contexto, ou mesmo para justificar atos abomináveis contra a humanidade de todas as partes e em todos os sentidos, através de interpretações de suas alegorias, parábolas, fábulas e leis é simplesmente uma heresia. Achar que Deus do universo seria conivente com atos de maldade, simplesmente por pertencer a este ou a aquele povo, são ideias, provenientes da ignorância e das mais baixas camadas (Cascas- Klipot) da nossa inferioridade territorial animal. É uma visão limitada, medieval, diminuta, sem nenhuma universalidade, encerrando Deus em um nível muito pequeno e egoísta como o do dono da ideia. É a ideia de um Deus como um Mágico velho com poderes e capaz de todas paixões humanas a inclusive de ser parceiro ou tutor de um determinado povo, tendo preferências e o deixando fazer o que bem entenda.
Vamos nos deter um pouco na sequencia de Saul, David e Salomão, arquétipos da alma humana.
Para começar cada um dos três reis dos Israelitas: Saul, Davíd e Salomão, representa uma fase da alma, sendo Saul a fase de Rashah ou malvado, David a fase de intermediário ou Beinoní em que em parte da sua vida ele é mau, se arrepende (Faz Teshuvah) e parte é um justo.
O terceiro rei de Israel é um justo, sendo um rei sábio e constroi o templo de Jerusalém ou Beit HaMikdash (Casa do Santo) sobre a montanha de Moriah (Har Moriah – Montanha da Consideração do senhor). O seu nome era Shlomo Salomão, derivado da palavra Shalom que significa Paz e seu reino foi na época de paz.
Saul é o início da nossas alma quando somos Rashah (Malvados), egocêntricos, ciumentos e outros defeitos, podendo estas características serem encontradas na descrição e vida de Saul. É a nossa fase infernal e o Tanach não deixa dúvidas a este respeito. No próprio nome velado de Saul (שְׁאוֹל) que quer dizer simplesmente Sheol (Inferno) não há dúvidas. Procurem na bíblia em hebraico e vão ver que a palavra inferno (שְׁאוֹל) e Saul ( שְׁאוֹל ), são exatamente iguais. Aqui apresento dois textos para não deixar dúvidas:
1 Samuel 9:12
Este tinha um filho, cujo nome era Saul, moço e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaia a todo o povo.
ולו היה בן ושׂמו שׂאול בחור וטוב ואין אישׂ מבני ישׁראל טוב ממנו משׂכמו ומעלה גבה מכל העם
2 Samuel 22:6
“Cordas do Inferno me cingiram; encontraram-me laços de morte”
חבלי שׂאול סבני קדמני מקשׂי מות
Isso não deixa dúvidas a respeito do nome de Saul e do seu relacionamento com a maldade. Sua vida também é coalhada de atos de ciúmes, egocentrismo e maldade, mas houve uma evolução e momentos de boas ações, Vejam a sua história na bíblia, o fim de sua vida e concluam o seu significado.
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O segundo Rei foi David. O seu nome é derivado da palavra אהבה (Ahavah - amor) sendo David, "amado" ou "Bem amado".
David era um pastor de ovelhas, o que e bem significativo para uma alma já na condição inicial de intermediário (Beinoní), era salmista e musico, mas a característica mais importante neste estágio, era também a de ser um guerreiro.
O seu episódio da luta com o guerreiro gigante filisteu (גוליית) Golias, que vem da palavra Goluth (גולה – exílio, destino, objetivo, confinado, mas também Gol do futibol), do exílio, quando estamos na escuridão e distantes de Deus. A primeira fase será a de nos separarmos e lutarmos com as forças da idolatria (Os deuses que nos seguram à materialidade à vida puramente material e sensorial).
Nesta fase da história, o gigante, guerreiro filisteu (Filistéia - povo Idólatra e maior inimigo de Israel, representando sentimentos internos de nossa mente inferior) é a maior ameaça para o reino.
David (Nossa alma na situação inicial da fase intermediária), começa a luta, mas com uma pedrada certeira na testa de Golias, o derruba, sendo cortada a sua cabeça.
Esta alegoria significa o início do fim da diáspora, onde o dia começa a raiar e nossa alma começa a entrar no início do seu reinado. Desta forma David vira um herói de seu povo, onde abre caminho para ser Rei. É ungido por Samuel e começa as batalhas da sua vida.
As batalhas da alma representam as lutas que teremos que travar para alcançar o nosso destino, sendo cada batalha a descrição dos meios pelo qual atingiremos os nossos objetivos. A luta não é só sabermos que deveremos ser bons, justos e retos, mas necessitamos de saber como devemos fazer isso, qual armas devemos empunhar e que batalhas travaremos, pois as forças contra a qual teremos que lutar são forças primordiais e gigantescas. Precisamos saber o caminho. Tudo está lá, só precisaremos estudar, compreender rebuscar os seus símbolos e alegorias através da Torah oral, entrar profundamente nos textos sagrados, inundar as nossas almas com as suas imagens e as respostas surgirão. São verdadeiramente maravilhosas !, mas a alma precisa estar inundada pela Torah !
Por ignorância, estas batalhas são apontadas por certas religiões que o Deus bíblico é mau e incita o seu povo para a luta e para a matança indiscriminada, o que não é um fato, pois a única luta aqui é a necessária para galgar os caminhos da alma em direção ao topo e a proximidade de nosso criador. Até muitos dos Judeus de hoje acham isso e não conseguem ver adiante da primeira camada da bíblia hebraica e não usam o próprio conhecimento do idioma para compreendê-la. Estão como disse o poema: “Cordas do Inferno me cingiram; encontraram-me laços de morte”.
Luta ou combate em hebraico é Krav (קרב - Combate) que é da Mesma raiz de karov (קרוב – Próximo) , Korvan (קרבן – Sacrifício), trocando-se kuf por caf כרוב (Queruv ou querub, anjos de segunda ierarquia).
Vemos desta forma que o combate e o sacrifício é uma aproximação do criador, sendo o combate com as forças internas (Midots – medidas) que cercam as nossas almas representados pelos povos cananitas que são idólatras.
Dito pelo próprio Jesus: “Não pensem que vim trazer paz à Terra; Não vim trazer paz, mas a espada”. Mateus 10:34.
Isso foi dito por Jesus pelo mesmo motivo, pois a própria palavra espada חרב (Possui gate רב) que são as letras terminais que representam רב (Rabbi, suficiente, oficial, ministro), presentes nas palavras acima.
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